Ao Vento...
O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh'alma trágica e doente
Não sabe se há-de rir, se há-de chorar!
Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim, sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amar,
A tua voz tortura toda a gente!...
Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim!... Ó vento, chora!
Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
E a gente andar a rir pla vida fora!!...
Florbela Espanca
*****
Impressionante como o brilho ofuscado de um sorriso consegue esconder o brilho intenso de 1001 lágrimas..
3 Comments:
"Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
E a gente andar a rir pla vida fora!!..."
lindo...
Lana: Sim, transmite como muitos de nós nos sentimos infelizmente.. mas lágrimas só trazem lágrimas.. por isso sorrimos para ver se esquecemos, nem que apenas durante os segundos do nosso sorriso.. ***
Marisa: Obrigada :)
Também adoro Florbela Espanca, leio e volto a ler sem me cansar :)
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