quarta-feira, março 23, 2005

Ao Vento...

O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh'alma trágica e doente
Não sabe se há-de rir, se há-de chorar!

Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim, sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amar,
A tua voz tortura toda a gente!...

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim!... Ó vento, chora!

Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
E a gente andar a rir pla vida fora!!...

Florbela Espanca

*****

Impressionante como o brilho ofuscado de um sorriso consegue esconder o brilho intenso de 1001 lágrimas..

3 Comments:

At 25/3/05 15:19, Anonymous Anónimo said...

"Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
E a gente andar a rir pla vida fora!!..."

lindo...

 
At 25/3/05 17:43, Blogger RealSmile said...

Lana: Sim, transmite como muitos de nós nos sentimos infelizmente.. mas lágrimas só trazem lágrimas.. por isso sorrimos para ver se esquecemos, nem que apenas durante os segundos do nosso sorriso.. ***

 
At 28/3/05 16:31, Blogger RealSmile said...

Marisa: Obrigada :)
Também adoro Florbela Espanca, leio e volto a ler sem me cansar :)

 

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